terça-feira, 17 de junho de 2008

UMA PESCARIA DE GAROUPA

Na qualidade de filho, neto e bisneto de pescador, não poderia ser diferente, também sou pescador. Na verdade já fui mais, hoje menos ou quase nada. Certa vez fui pescar Garoupa com meu pai, ” tipo de pesca que nunca gostei”. A isca para pescar é Sardinha ou Bonito, com um detalhe, quanto mais podre melhor. O anzol usado é médio, que cabem aproximadamente 4 sardinhas.
Era o tipo de pesca que ele mais gostava. Ficava claro em seu semblante a satisfação em ancorar o barco a beira da costeira e ficar esperando a boa vontade do peixe. Eu tinha que acompanha-lo, pois era um humilde funcionário e filho obediente.
Um dia, estávamos pescando na Ilha da Pesca, a isca era bonito podre, tão podre que até corria uma gosma esverdeada. Eu na minha má vontade e ele na sua paciência de um Monge tibetano.
Para pescar garoupa tem alguns segredos, reservados somente aos bons. Os peixes pequenos e sem nenhum valor, tais como o Jaguareçá, o Sinhá Rosa e outro com uma boquinha vermelha que nem me lembro o nome, mas que não é vantagem nenhuma pescar, a todo momento beliscam a isca. Aí é que entra a paciência tibetana para deixar esses pequenos peixes avançarem sobre a isca, são eles que vão mostrar a Garoupa que ali tem comida. Eles são extremamente famintos e tem que trocar de isca o tempo todo, daí meu desgosto nesse tipo de pesca. Ter que pegar outro pedaço de bonito, um bom pedaço, mais ou menos 5 cm de peixe podre. Eu pegava um peixe atrás do outro, mas só o Jaguareçá, a Garoupa que é bom nada, tinha que trocar a isca de novo. Meu pai ficava olhando a minha incompetência, já imaginando que não teria muito futuro na pesca.
A melhor hora para essa pescaria é de madrugada, mais ou menos 06 da manhã. Estar acordado no mínimo ás 05 da manhã é coisa que nunca me agradou.
Quando dava 08 da manhã, eu já estava querendo ir embora e meu pai cada vez mais animado com a pescaria. Continuávamos ali, o barco balançando , o Jaguareça destroçando minha isca, eu mau humorado, tendo que mexer no bonito podre, cheio de sangue.
Meu pai pediu para eu pegar um bonito grande, cortar a cabeça para colocar no anzol. Não perdi a oportunidade de ficar calado e, perguntei: “ Pra que essa cabeça enorme no anzol?”. Meu pai nem respondeu, jogou o anzol na água com aquela enorme cabeça. Não deu mais que um minuto, vi uma puxada na linha e a cara de satisfação que só se vê nos grandes vencedores. Falou em voz alta pra eu pegar o bicheiro. É um arco de ferro em forma de anzol com aproximadamente um metro de comprimento e serve para tirar o peixe da água. E falou de novo.
Corri pra pegar a ferramenta e fiquei no aguardo.Vi aquela boca enorme aberta, de cor amarronzada. Uma bela Garoupa de uns 6 kg mais ou menos. Fisguei-a pela guelra e trouxe já com ajuda do meu pai para dentro. Ainda estava com a cabeça do bonito que jamais imaginaria que pudesse pegar alguma coisa.
Meu pai olhou- me satisfeito, deu a mais esperada ordem do dia: Puxe a ancora que o almoço já está garantido.Viemos embora. Eu no comando do barco e ele na proa, com o olhar e pose que so os grandes pescadores tem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fantástica a história, muito boa

Unknown disse...

otima...nesse fim de ano to nas pedras!!!

espero ter a mesma pescaria que vcs tiveram!