quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

CAIÇARAS GRAÇAS A DEUS

Tenho 34 anos, todos vividos aqui na Almada, Minha família está aqui há pelo menos quatro gerações. Conheço cada detalhe deste lugar, costumes, modo de vida, problemas e soluções.Desde a fundação da SABA (Sociedade Amigos do Bairro da Almada) nossa família sempre esteve à frente. Primeiro foi a Cida minha irmã mais velha, depois o Russo, Gerson e eu. Em seguida veio o Agnaldo, meu primo e sócio. Sempre estivemos presentes na SABA, se não de presidente, de vice-presidente.Enfrentamos diversos problemas. Desde ameaça de morte, processo judicial, denúncia no comercio, brigas, traições, e muito mais.Mas em nenhum momento deixamos de trabalhar para fazer da Almada um lugar decente para se viver e criar nossos filhos. Simplificando o nosso ponto de vista, nós, literalmente fizemos foi cuidar do nosso quintal. Sim, porque foi assim que fomos criados, livres pela praia, aprendendo o oficio dos mais velhos, crescendo “caiçaras graças a Deus”.Todos que aqui chegam dizem que moramos num paraíso, realmente moramos num paraíso, mas não quer dizer que não temos problemas. Somente com muito pulso firme conseguimos fazer da Almada um lugar com índice de roubo zero, sem drogas, malandragem e muito menos, anarquia. Mas é difícil manter os princípios caiçaras convivendo com novos valores morais e materiais que vêm junto com a abertura da estrada.Existem bairros onde os moradores não se organizaram e problemas sérios apareceram, roubo, drogas, desvalorização dos imóveis, insegurança.Aqui na Almada, hoje, uma pequena parcela da comunidade luta pelo seu bairro. Dá para contar nos dedos as pessoas que defendem com pulso forte a comunidade. Ainda assim conseguimos fazer da Almada esse lugar maravilhoso para viver.Muitas pessoas que aqui vivem ou tem casa de veraneio enchem o peito para dizer que moram ou tem casa aqui, mas que em nenhum momento lutam para defender. Muitos moradores tradicionais não se envolvem na defesa do seu patrimônio, são os primeiros a esconder-se dentro de casa. Pois sabem que este pequeno grupo vai defender o lugar para eles.Converso com pessoas de vários bairros, em todos vejo a mesma situação, uma minoria que defende uma comunidade inteira.Já ouvi pessoas difamando esses lideres, falando que são encrenqueiros, que não é dessa forma que se resolve o problema.A droga é um dos maiores problemas nestas praias onde o policiamento só chega se for chamado, os maconheiros acham que podem fumar em qualquer lugar, inclusive na praia. O que fazer? Fingir que não viu? Chamar a policia? Será que eles vêm? Aqui resolvemos assim. Primeiro pedimos educadamente, e, se não funciona , pegamos um grupo de moradores e fazemos apagar na hora.Por esses e outros motivos somos encrenqueiros. Essas pessoas não entendem que se têm suas casas aqui e deixam os filhos na praia com tranqüilidade, é por que um pequeno grupo defende os direitos de todos.Os conflitos entre os moradores também existe. Acostumados com a vida tranqüila acham que é preciso agradar a todos, receber bem o turista e deixar que ele faça o que quiser.

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